
Por Erasmus Morus
Nossa sociedade se orgulha de ter como uma de suas notas fundamentais a globalidade e o pluralismo. Vivemos em uma sociedade onde valem diversas modas, diversas estéticas, diversas linguagens, a opinião à verdade. Tudo isso desde que não fira o pano de fundo da lógica “pluralista” ocidental: a hegemonia do rico, branco, europeu, cristão, bem sucedido.
Não se pode negar o fato do pluralismo no qual estamos imersos. É fato inegável. Todavia, na contramão daquilo que nos salta aos olhos vê-se o crescimento de atitudes extremistas pro-hegemônicas. Vemos agressão a homossexuais por parte do poder constituído (haja vista o deplorável deputado Jair Bolsonaro) e por camadas populares, agressão a judeus, a mulçumanos, a cristãos, a pessoas com deficiência, mulheres, negros. O diferente coloca em xeque uma identidade que não se autoconhece.
No que tange à religião judaico-cristã-mulçumana, a pretensa justificativa para a naturalização de atos violentos está na raiz da sua autocompreensão: dentre TODOS os POVOS, DEUS ESCOLHEU apenas UM: seja o povo judeu, seja o povo (sic) cristão, seja os árabes como único depositário da fidelidade amorosa de um Deus que criou todas as coisas. Será qual povo, afinal que Deus escolheu? Estranho egoísmo humano: achar que o Criador ama apenas a pequeniníssima parte de uma grande beleza criada.
O fato ocorrido na Noruega, país de primeiro mundo, serve para nós, afroameríndios,como triste exemplo de como não podemos ser. Em nome de Deus, alguém mata seus compatriotas simplesmente por serem menos intolerantes com migrantes que saem da periferia do mundo em busca de um lugar ao sol nos países frios. Justifica a sua ação na religião, na política. Em nome de D’us, criador de todas as coisas, somos intolerantes para com todas as outras nações. Aprisionados em nossas pequenas concepções do Grande Mistério, pensamos tê-lo abarcado todo e negligenciamos o fundamental: o amor.
A nossa compreensão de que somos escolhidos por Deus não dá a nós, judeus, cristãos ou mulçumanos nenhum privilégio. Pelo contrário, nos dá a missão de agir como quem experimentou um amor fundamental e fundante: D’us criador de todas as coisas.