quarta-feira, 27 de julho de 2011

Em Nome de D’us: INTOLERÂNCIA


Por Erasmus Morus

Nossa sociedade se orgulha de ter como uma de suas notas fundamentais a globalidade e o pluralismo. Vivemos em uma sociedade onde valem diversas modas, diversas estéticas, diversas linguagens, a opinião à verdade. Tudo isso desde que não fira o pano de fundo da lógica “pluralista” ocidental: a hegemonia do rico, branco, europeu, cristão, bem sucedido.

Não se pode negar o fato do pluralismo no qual estamos imersos. É fato inegável. Todavia, na contramão daquilo que nos salta aos olhos vê-se o crescimento de atitudes extremistas pro-hegemônicas. Vemos agressão a homossexuais por parte do poder constituído (haja vista o deplorável deputado Jair Bolsonaro) e por camadas populares, agressão a judeus, a mulçumanos, a cristãos, a pessoas com deficiência, mulheres, negros. O diferente coloca em xeque uma identidade que não se autoconhece.

No que tange à religião judaico-cristã-mulçumana, a pretensa justificativa para a naturalização de atos violentos está na raiz da sua autocompreensão: dentre TODOS os POVOS, DEUS ESCOLHEU apenas UM: seja o povo judeu, seja o povo (sic) cristão, seja os árabes como único depositário da fidelidade amorosa de um Deus que criou todas as coisas. Será qual povo, afinal que Deus escolheu? Estranho egoísmo humano: achar que o Criador ama apenas a pequeniníssima parte de uma grande beleza criada.

O fato ocorrido na Noruega, país de primeiro mundo, serve para nós, afroameríndios,como triste exemplo de como não podemos ser. Em nome de Deus, alguém mata seus compatriotas simplesmente por serem menos intolerantes com migrantes que saem da periferia do mundo em busca de um lugar ao sol nos países frios. Justifica a sua ação na religião, na política. Em nome de D’us, criador de todas as coisas, somos intolerantes para com todas as outras nações. Aprisionados em nossas pequenas concepções do Grande Mistério, pensamos tê-lo abarcado todo e negligenciamos o fundamental: o amor.

A nossa compreensão de que somos escolhidos por Deus não dá a nós, judeus, cristãos ou mulçumanos nenhum privilégio. Pelo contrário, nos dá a missão de agir como quem experimentou um amor fundamental e fundante: D’us criador de todas as coisas.


terça-feira, 24 de maio de 2011

As violências nossas de cada dia


Um estudante entra armado na escola em que estudara. Atira para todos os lados simplesmente para matar. Ficamos atônitos. Onde vai parar esse mundo? Esta questão fica a martelar nossa cabeça de pessoas de bem.

Um grupo de terroristas joga aviões contra prédios em um país. Para garantir a paz, esse país inicia duas guerras e caça o cabeça da organização terrorista até dar a ele o que ele deu às pessoas que estavam nos prédios e nos aviões.

Duas moças entram na casa de uma idosa pobre para roubá-la e como esta não tinha dinheiro é brutalmente espancada.

Estamos nos acostumando com este tipo de notícia. Temos noticiários impressos e televisivos especializados em divulgar a violência. O problema é que, no nosso modo de entender, pessoas de bem que somos, somente estes casos extremados são considerados violência. Se, todavia, olharmos com um pouco mais de autocrítica nossas relações, percebemos que reproduzimos a todo momento as estruturas de poder promotoras da violência: não conseguimos lidar com o diferente e tentamos eliminá-lo do nosso meio. Com isso, produzimos nossos marginais que, também de forma violenta, questionam a sociedade que os produziu.

Entramos em um circulo vicioso cego. Violência gerando violência, tudo isso sendo naturalizado, normalizado sem que, muitas vezes, a realidade humana se dê conta disso. A estrutura violenta tornou-se para nossa sociedade o lugar comum, a ponto de chamarmos nossas cidades de selvas de pedra.

Um outro caminho, contudo, é possível: posicionar-se como praticante ou não da violência depende somente e tão somente da liberdade humana. Isto, concretamente, se traduz na construção de relações humanas novas, capazes de reconhecer que o grande dever de cada sujeito é garantir o pleno cumprimento dos direitos do outro, quando percebermos que a violação do direito humano de um é violação dos direitos da humanidade inteira, que nós produzimos nossos Osamas, nossos Wellingtons.

Aqui é construirmos um “livrai-nos do nosso mal, das violências nossas de cada dia”, porque entre nós não deve ser assim.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Liberté Egalité Fraternité




Liberdade igualdade e fraternidade, eis o tema da revolução francesa ocorrida em 1789. Os ideais voltados para o bem comum da sociedade estão em alta.

Hoje em um mundo que caminha cada dia mais evoluindo ao lado de avanços, sejam eles tecnológicos, científicos, políticos. Mas algumas pessoas ou grupos persistem em manter uma postura arcaica quando se trata de democracia e direitos humanos.

Os noticiários diariamente vêm informando a respeito de países que estão enfrentando manifestos, protestos contra as chamadas ditaduras, ou regimes autoritários. O caso que deu mais repercussão foi o do Egito, cujo presidente ditador se recusava a deixar o cargo.

O “mundo” que ainda sofre com esse tipo de postura dos seus representantes está se vendo em caminhada para a democracia. Os jovens mais uma vez, fazem o seu papel de tentar construir um lugar melhor para se viver.

Mas porque devemos lutar pela democracia? O que é democracia? Muitos se perguntam.

O conceito de democracia vem do grego “Demo-povo” “Kratos-poder”, que refere-se ao direito de expressão, de locomoção e principalmente direito ao voto, que elegerá a pessoa que irá os representar.

E democracia é fundamental em nossa sociedade, pois, quando nos referimos a um país, estamos nos referindo também a dezenas de milhões de pessoas, que pensão diferente, tem necessidades, e até mesmo culturas diferentes.

Uma só pessoa no poder, um só ponto de vista, uma pessoa que defende apenas os ideais de uma pequena parte dos cidadãos. Uma “ditadura”.

Segundo o Grupo RBS, 36,9% dos países no mundo estão ainda sob um regime ditador, cerca de 47,3% já tem a democracia implantada e o restantes estão em regimes híbridos.

Um volume muito grande de países em ditadura, tendo em vista que a mais de 60 anos da declaração dos direitos humanos, que asseguram direitos e deveres que são feridos por esse tipo de regime.

O mais comum de ocorrer, é a censura que pode ser a grande responsável pela supremacia desses regimes. O governo tem o apoio das forças armadas, e isso é um forte fator para intimidar os revolucionários.

Com movimentos de protestos os cidadãos tentam reclamar seus direitos, mas são recebidos com hostilidade pelos militares a mando dos governantes. Isso é vergonhoso.

As pessoas que deveriam nos defender, trabalhar para o melhor andamento da nação são as pessoas que ferem que mutilam os direitos das pessoas.

Por fim, digo que logo me veio à cabeça lemas e ideais dos primeiros movimentos democráticos como, por exemplo, “liberdade, igualdade e fraternidade” que foi o lema da revolução francesa. Em meu modo de ver, foi o ponto de partida para a democracia. O autoritarismo,é sem duvida, um retrocesso na vida de toda a sociedade.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Salvem o faraó!


O país das pirâmides está em crise. Forças populares gritam impulsionadas pelo ar da verdadeira democracia que está engasgado há tempos em suas gargantas. Quem se revolta hoje não é Moisés e os hebreus contra o Faraó, mas é o verdadeiro povo egípcio contra o regime ditatorial de quase trinta anos que impera em seu país. Estão cansados.

A questão política é séria. Não me atreveria a analisar profundamente uma realidade que conheço apenas superficialmente. O que dá para afirmar é que nenhum regime anti-democrático pode ser defendido e um presidente que se acomoda por quase trinta anos no comando de seu país mostra claramente que tipo de "democracia" ele defende. Apoiado em suas jogatinas políticas Hosni Mubarak conquistou confiança da comunidade internacional sendo um fiel escudeiro dos americanos e do ocidente, além de apoiar acordos de paz com Israel ao contrário da maioria dos países árabes. Seria mesmo um desejo de boa política ou uma jogada extremamente conveniente?

Foi muito conveniente, é claro. Os EUA estavam lá prontos a dar abrigo e apoio a ditatura egípcia, justo eles que se dizem os pais da democracia. Porém, Mubarak se esqueceu da primeira lei da política suja e de troca de favores: nunca confie demais em seu aliado. Permito-me acrescentar: especialmente quando este for os EUA.

O povo gritou, foi às ruas, mostrou insatisfação e a mídia internacional concentrou seus olhos sobre o Egito. Tudo isso bastou para que Barack Obama abandonasse o aliado antigo do Ocidente e pedisse uma transição "democrática". Por essa Hosni Mubarak não esperava. Ele teve que ceder e declarou não tentar mais a reeleição, porém se recusou a renunciar imediatamente.

Jogo sujo. O Egito sofre nas mãos da ditadura, os EUA mais uma vez mostram a sujeira de suas alianças que abrigam tiranos desde que esses o apoiem. Agora tudo parece mudar e o povo mostrou poder de voz.

Não sabemos até onde isso terá efeito, mas a esperança é grande. Parabéns ao povo egípcio pela atitude brava de cidadania. Esperemos que a violência não aconteça nesses protestos como já aconteceu em alguns momentos.

Que Mubarak, um pseudo faraó moderno, entenda que chegou a hora de descer do topo da pirâmide, afinal ela começou a ruir.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Doxa econômica: sobre o capitalismo e a tragédia

Kelly Cristina - aluguel imóveis teresópolis - Região Serrana

Por Erasmus Morus

Como bem diz o título desta pensata, vou emitir uma doxa, uma opinião acerca do modelo econômico capitalista e sua relação com a tragédia das famílias da região serrana do Rio de Janeiro. Isto porque careço de conhecimentos técnicos e teóricos que possibilitariam um texto mais objetivo.

O modelo capitalista neoliberal no qual vivemos se baseia no acúmulo de capital e na autogestão do mercado. Essa autogestão é o que mantém o equilíbrio do mesmo, sendo a intervenção estatal uma aberração.

A manutenção do sistema requer a produção de uma sociedade de consumidores. Quanto mais os bens são consumidos, há maior circulação/acúmulo de capital nas mãos de poucos que detem o sistema de produção de bens. Entra aí a necessidade de se fetichizar os produtos da indústria para que sejam capazes de aumentar cada vez mais as vendas, o que aumenta a circulação/acúmulo de capital, que gera desenvolvimento econômico (acúmulo de capital). Parece-me, como bom desconhecedor de “economês” que esta é a lógica que perpassa o atual sistema.

Com as tragédias que assolam alguns estados da federação brasileira percebe-se a cruel imoralidade do sistema econômico que nutrimos. Nos lugares atingidos falta de tudo um pouco: da habitação à alimentação. Com a falta de bens e a absoluta necessidade de consumo, visto que para muitos não sobrou nada, o sistema aumenta preços em vista do acúmulo do capital. O sistema, que somos nós, que nós escolhemos e que nós nutrimos, é incapaz de compadecer-se para garantir a um par o direito de alimentação, saúde e moradia digna.

Alguém pode objetar: mas, o sistema não tem que se compadecer. Certamente, se concordamos com a lógica acima descrita. Porém somente conseguimos sustentar essa lógica quando a tragédia não nos atinge de maneira próxima.

Nosso atual modelo cresce às custas das tragédias de tantos humanos que nada tem ou que tudo perdem. Onde chegaremos?

(Assim é comentada a foto desta postagem no site G1.com.br: "A solução provisória da família de Kelly Cristina foi reunir 12 pessoas da família em 02 quartos)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A história se repete


São centenas de mortos, milhares de desabrigados, dezenas de autoridades atônitas e irresponsáveis e milhões de assustados. A tragédia que se abate sobre o país nesse mês de janeiro não dá para ser expressa em números. Agora não adianta contabilizar cadáveres, desaperecidos e desabrigados. É preciso ir além mesmo nessa dor terrível.

A história é a mesma de todos os verões. Santa Catarina sofreu há pouco tempo, o próprio Rio de Janeiro ano passado foi atingido, São Paulo é palco constante, sul de Minas por esses dias e Porto Alegre também. Vamos chorar, lamentar, reclamar, nos entupir de sensacionalismo, mas ano que vem tudo irá acontecer de novo. Pode ser pior ou menos grave, mas vai acontecer.

Os motivos são inúmeros e complexos. Descaso absoluto do poder público, nossa ferocidade na relação com a natureza, que está dando sinais de debilidade, a ocupação irregular de áreas de risco, fruto de uma desigualdade horrenda e dolorosa.

Culpados temos muitos. O que não se pode fazer é vestir-se de hipocrisia e culpar os vitimados. Eles não têm culpa nenhuma. Ninguém mora em encosta de morro porque quer, ninguém escolhe morrer ou estar a beira da desgraça. Ninguém impede que essas pessoas morem ali porque não há onde colocá-las. Os pobres não têm voz e nem vez.

Esse problema trágico só acabará quando houver uma política realmente humana que não se atenha a financiamentos-fantasia que só beneficiam uma pequena parcela da população. É preciso plano de habitação, investimento, coerência e senso de realidade. Afinal, como já disse, janeiro de 2012 a história irá se repetir.

O tempo dá seus sinais, cabe a nós entendê-los. Que Deus esteja com quem realmente sofreu com esse problema e perdoe a humanidade que produz tanta desigualdade.

Sobre as chuvas e a Criação



por Erasmus Morus

A Campanha da Fraternidade de 2011 será, talvez, a que mais nos falará nos últimos anos. Fraternidade e a Vida no Planeta fala da maneira com que nós lidamos com a nossa casa comum, nosso planeta.

Há controvérsias, entre os cientistas, sobre o efeito de nosso processo de industrialização sobre o clima de nossa casa. Há quem sustente que o processo de aquecimento global é natural. Há, todavia, os cientistas que sustentam que o dito processo desencadeia mudanças drásticas no clima. De mãos dadas com o processo de industrialização há a ideologia capitalista-consumista que nutre as industrias e se nutre do sonho de vida feliz do humano.

O que será que isto tem haver com as chuvas deste início de ano?

TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS PELAS MORTES OCORRIDAS E PELOS DESABRIGADOS. Isto não é frase de efeito. Cada um de nós, com nossas atitudes irresponsáveis na relação com o planeta, com o consumo exagerado e desnecessário, contribui para a morte do e no planeta.

É uma dura realidade que coloca em xeque nossa maneira de existir, de nos relacionar com o planeta. Nunca nos perguntamos sobre a quantidade de recursos do planeta que cada um de nós consome. Nunca paramos para pensar que as atitudes que temos estão relacionadas com um todo dentro do qual estamos inseridos, o planeta. Até que esta realidade nos atinja de maneira direta, nós as ignoramos e levamos a vida como se fôssemos os únicos habitantes do planeta.

A sabedoria judaico-cristã compreende que a terra foi criada por Deus e dada à humanidade. Anterior ao mandamento de dominar sobre a terra, algo que nos poderia levar à concepção de ser senhores da terra, absolutos, há o mandamento de frutificar, multiplicar e encher a terra (Gn 2,28). Antes da dominação há que se fazer com que a terra produza frutos, que a vida se multiplique em um modelo de terra-paraíso, onde há abundância de vida para tudo e para todos. Uma interpretação errônea da sociedade ocidental, marcadamente judaico-cristã coloca o humano como um dominador voraz, insaciável, que não cuida da vida que precisa ser frutificada, multiplicada.

Nosso modelo atual faz de nós uma mistura de Caim e Abel. Somos fratricidas com nossas atitudes de extrema exploração-consumo do que a terra generosamente nos proporciona. Ora somos assassinos, ora somos vítimas. Assassinos-vítimas que somos, somos inteiramente responsáveis.

Que a Campanha da Fraternidade extrapole os templos e os tempos, que ela nos ajude a refletir nossas atitudes geofratricidas, e, à partir de novas atitudes, construir um outro mundo possível.