
O Brasil vive um grande momento de sua história: a possibilidade de escolher entre projetos distintos de governo já experimentados. Infelizmente a campanha perdeu seu caráter propositivo e dialógico do primeiro turno e passou a uma troca de acusação entre a situação e a oposição. A situação ainda piora quando igrejas, em nome de Deus, fazem looby para favorecer candidato x ou y.
Como teólogo e conspirador deste blog, não posso deixar de me posicionar acerca da missão da Igreja cristã no que tange à política.
Desde os primórdios o messianismo de Jesus de Nazaré não é bem compreendido por todos aqueles que são seus seguidores. Alguns dos que estavam com ele pediram lugares à sua direita e à sua esquerda. A resposta de Jesus é emblemática: os governos buscam poder mas, entre os discípulos não deve ser assim. Quem quiser ser o primeiro que seja o servidor de todos.
A Igreja, no entanto, após o edito de Milão por Constantino, abandona as catacumbas e se atrela ao poder estatal a ponto de o dito Imperador se considerar “bispo de fora” por ocasião do Concílio de Nicéia. A Igreja vai se adaptando aos rumos históricos da Europa e vai cada vez mais se centralizando e assumindo um poder político de grande expressão. Haja vista as 27 leis ditadas pelo papa Gregório VII, onde afirma que somente os pés do papa podem ser beijados.
Certamente, como afirmam alguns historiadores da Igreja, isto era necessidade da contingência histórica. Fato é que a Igreja se vinculou às cortes e passou a exercer poder político e espriritual.
Com o advento da modernidade e do estado laico as igrejas perdem, de alguma forma, o poder político oficial. Todavia os palácios episcopais e as casas paroquiais continuam a, saudosamente, suspirar pelo poder das cortes.
O Concílio Vaticano II é, sem dúvida o grande marco da Igreja Católica no século XX, pois, ao invés de ser um concílio dogmático como os demais, ele é um concílio pastoral, onde a Igreja volta-se sobre si mesma, em humilde gesto de auto crítica repensa e reformula sua caminhada pastoral.
No Concílio a Igreja passa a se compreender como Povo de Deus que vive em comunhão e sua missão é testemunhar o Evangelho em meio às alegrias e esperanças do homem.
Depois dessa digressão histórica podemos pensar, à luz da Palavra de Deus e do Concílio Vaticano II o que estamos testemunhando: Igrejas exigindo que candidatos assinem compromissos com suas pautas morais, bispos escrevendo cartas dizendo claramente aos fiéis que não votem em determinado partido. A igreja, em seu aspecto humano é inegavelmente uma coorporação política, visto que o homem é animal político e é este homem que compõe a Igreja como seu membro.
Sendo a missão da Igreja evangelizar e sendo ela a-partidária, já que ékklesia, re-união de pessoas, ela está falhando ao obrigar candidatos a assinar suas pautas morais.
Não estamos aqui discutindo a pauta moral das Igrejas, mas a maneira com que ela a propõe. Vivemos um saudosismo das cortes quando deveríamos revisitar nossas origens, as catacumbas, e anunciar o Evangelho da vida e não o impor.
Será o que faria Jesus? Faria campanha a favor de um partido ou promoveria a unidade dos filhos de Deus, acolhendo a todos os partidos e propondo um caminho que visa fazer uma nova consciência? A César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
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