quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Doxa econômica: sobre o capitalismo e a tragédia

Kelly Cristina - aluguel imóveis teresópolis - Região Serrana

Por Erasmus Morus

Como bem diz o título desta pensata, vou emitir uma doxa, uma opinião acerca do modelo econômico capitalista e sua relação com a tragédia das famílias da região serrana do Rio de Janeiro. Isto porque careço de conhecimentos técnicos e teóricos que possibilitariam um texto mais objetivo.

O modelo capitalista neoliberal no qual vivemos se baseia no acúmulo de capital e na autogestão do mercado. Essa autogestão é o que mantém o equilíbrio do mesmo, sendo a intervenção estatal uma aberração.

A manutenção do sistema requer a produção de uma sociedade de consumidores. Quanto mais os bens são consumidos, há maior circulação/acúmulo de capital nas mãos de poucos que detem o sistema de produção de bens. Entra aí a necessidade de se fetichizar os produtos da indústria para que sejam capazes de aumentar cada vez mais as vendas, o que aumenta a circulação/acúmulo de capital, que gera desenvolvimento econômico (acúmulo de capital). Parece-me, como bom desconhecedor de “economês” que esta é a lógica que perpassa o atual sistema.

Com as tragédias que assolam alguns estados da federação brasileira percebe-se a cruel imoralidade do sistema econômico que nutrimos. Nos lugares atingidos falta de tudo um pouco: da habitação à alimentação. Com a falta de bens e a absoluta necessidade de consumo, visto que para muitos não sobrou nada, o sistema aumenta preços em vista do acúmulo do capital. O sistema, que somos nós, que nós escolhemos e que nós nutrimos, é incapaz de compadecer-se para garantir a um par o direito de alimentação, saúde e moradia digna.

Alguém pode objetar: mas, o sistema não tem que se compadecer. Certamente, se concordamos com a lógica acima descrita. Porém somente conseguimos sustentar essa lógica quando a tragédia não nos atinge de maneira próxima.

Nosso atual modelo cresce às custas das tragédias de tantos humanos que nada tem ou que tudo perdem. Onde chegaremos?

(Assim é comentada a foto desta postagem no site G1.com.br: "A solução provisória da família de Kelly Cristina foi reunir 12 pessoas da família em 02 quartos)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A história se repete


São centenas de mortos, milhares de desabrigados, dezenas de autoridades atônitas e irresponsáveis e milhões de assustados. A tragédia que se abate sobre o país nesse mês de janeiro não dá para ser expressa em números. Agora não adianta contabilizar cadáveres, desaperecidos e desabrigados. É preciso ir além mesmo nessa dor terrível.

A história é a mesma de todos os verões. Santa Catarina sofreu há pouco tempo, o próprio Rio de Janeiro ano passado foi atingido, São Paulo é palco constante, sul de Minas por esses dias e Porto Alegre também. Vamos chorar, lamentar, reclamar, nos entupir de sensacionalismo, mas ano que vem tudo irá acontecer de novo. Pode ser pior ou menos grave, mas vai acontecer.

Os motivos são inúmeros e complexos. Descaso absoluto do poder público, nossa ferocidade na relação com a natureza, que está dando sinais de debilidade, a ocupação irregular de áreas de risco, fruto de uma desigualdade horrenda e dolorosa.

Culpados temos muitos. O que não se pode fazer é vestir-se de hipocrisia e culpar os vitimados. Eles não têm culpa nenhuma. Ninguém mora em encosta de morro porque quer, ninguém escolhe morrer ou estar a beira da desgraça. Ninguém impede que essas pessoas morem ali porque não há onde colocá-las. Os pobres não têm voz e nem vez.

Esse problema trágico só acabará quando houver uma política realmente humana que não se atenha a financiamentos-fantasia que só beneficiam uma pequena parcela da população. É preciso plano de habitação, investimento, coerência e senso de realidade. Afinal, como já disse, janeiro de 2012 a história irá se repetir.

O tempo dá seus sinais, cabe a nós entendê-los. Que Deus esteja com quem realmente sofreu com esse problema e perdoe a humanidade que produz tanta desigualdade.

Sobre as chuvas e a Criação



por Erasmus Morus

A Campanha da Fraternidade de 2011 será, talvez, a que mais nos falará nos últimos anos. Fraternidade e a Vida no Planeta fala da maneira com que nós lidamos com a nossa casa comum, nosso planeta.

Há controvérsias, entre os cientistas, sobre o efeito de nosso processo de industrialização sobre o clima de nossa casa. Há quem sustente que o processo de aquecimento global é natural. Há, todavia, os cientistas que sustentam que o dito processo desencadeia mudanças drásticas no clima. De mãos dadas com o processo de industrialização há a ideologia capitalista-consumista que nutre as industrias e se nutre do sonho de vida feliz do humano.

O que será que isto tem haver com as chuvas deste início de ano?

TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS PELAS MORTES OCORRIDAS E PELOS DESABRIGADOS. Isto não é frase de efeito. Cada um de nós, com nossas atitudes irresponsáveis na relação com o planeta, com o consumo exagerado e desnecessário, contribui para a morte do e no planeta.

É uma dura realidade que coloca em xeque nossa maneira de existir, de nos relacionar com o planeta. Nunca nos perguntamos sobre a quantidade de recursos do planeta que cada um de nós consome. Nunca paramos para pensar que as atitudes que temos estão relacionadas com um todo dentro do qual estamos inseridos, o planeta. Até que esta realidade nos atinja de maneira direta, nós as ignoramos e levamos a vida como se fôssemos os únicos habitantes do planeta.

A sabedoria judaico-cristã compreende que a terra foi criada por Deus e dada à humanidade. Anterior ao mandamento de dominar sobre a terra, algo que nos poderia levar à concepção de ser senhores da terra, absolutos, há o mandamento de frutificar, multiplicar e encher a terra (Gn 2,28). Antes da dominação há que se fazer com que a terra produza frutos, que a vida se multiplique em um modelo de terra-paraíso, onde há abundância de vida para tudo e para todos. Uma interpretação errônea da sociedade ocidental, marcadamente judaico-cristã coloca o humano como um dominador voraz, insaciável, que não cuida da vida que precisa ser frutificada, multiplicada.

Nosso modelo atual faz de nós uma mistura de Caim e Abel. Somos fratricidas com nossas atitudes de extrema exploração-consumo do que a terra generosamente nos proporciona. Ora somos assassinos, ora somos vítimas. Assassinos-vítimas que somos, somos inteiramente responsáveis.

Que a Campanha da Fraternidade extrapole os templos e os tempos, que ela nos ajude a refletir nossas atitudes geofratricidas, e, à partir de novas atitudes, construir um outro mundo possível.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SEM DIREITOS NÃO SOMOS HUMANOS


O ato de negar o direito a memória e honra das vitimas de crimes contra os direitos humanos na época da ditadura, é sem duvida um ato desesperado de querer esconder a verdade dos olhos de quem tem um senso critico, e alem disso, tem amor à vida.

Considerando que o estado teme o pagamento de multas altíssimas, questiono, será se os familiares de tais vitimas não merecem isso? Será se o esforço de tais vitimas não foi digno de reconhecimento? Poderia ficar horas só fazendo perguntas, mas vejo que dar o meu parecer é importante. E espero que seja importante também para a maioria dos leitores desse blog.

Quando nos calamos diante de desses acontecimentos, estamos também negando e descartando a história destas pessoas que lutaram para construir o Brasil. Um Brasil livre e democrático como é hoje.

Negando a história, negando o valor dessas pessoas, estamos dizendo indiretamente que para nós, a implantação de uma democracia não tem valor algum, que não nos importamos em ficar submissos à vontade das pessoas que têm “poder”. Deixamos que mais uma vez eles se coloquem acima de nós e com isso nos dominem.

Não estou querendo uma revolta, mas sim que nos mobilizemos para discutir esse assunto delicado, que juntos possamos mostrar a força que esses ativistas nos deram quando foram mortos só porque diziam que temos os mesmos direitos, tanto de falar quanto de poder representar o país.

Sejamos humanos em busca dos direitos dos homens.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sobre 1964 e 2011: História, política Direitos Humanos


Procuro re-visitar a história a partir de meu olhar de filósofo e de teólogo. Aconteceu hoje, o3 de janeiro de 2011 a transmissão de cargos de diversos ministérios do novo governo, da primeira mulher. Conquista simbólico-social à parte, fato inegável, diga-se de passagem, comporta também diversos vícios da política contemporânea, quando partidos não tem mais ideologia que os sustente, buscam por cargos que lhes garanta projeção nacional e recursos para as próximas campanhas. Sob um mesmo teto convive direita, centro, esquerda, centroesquerdadireita...

Na transmissão de cargo, o novo ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General José Elito Carvalho Siqueira defende a não apuração das violações de Direitos Humanos cometidas pelo Estado Brasileiro durante o regime militar. Sob o argumento (falacioso) de que é preciso olhar para frente, que a ditadura é um fato histórico passado e que o Brasil é um país grandioso que deve olhar para frente e não para trás, se posiciona contrariamente à criação de um grupo para apurar se houve ou não violação.

Já a nova ministra da Secretaria Especial para os Direitos Humanos, Maria do Rosário, muito timidamente defende que é hora de prestar contas, se assim o Estado o determinar.

Claro que, como humanista, penso que o Estado deve sim prestar conta à sociedade que o constitui dos atos praticados durante o regime militar. Retomo aqui o argumento de Irineu de Lião, em sua obra Adversus Haeresis, de que somente é redimido o que é assumido. A humanidade somente foi redimida porque Deus se fez homem. Analogamente podemos afirmar que somente seremos bem resolvidos com nossa história se o Estado que nossa sociedade constitui pelo sufrágio universal, assumir seus atos e, de alguma forma reparar à sociedade e aos indivíduos concretos que tiveram seus direitos violados.

Com a sustentação da posição atual, que finge não ter existido violações de Direitos Humanos fundamentais, tanto por parte do Estado quanto por parte das oposições, ferimos os tratados internacionais dos quais somos signatários, pois além de negar o direito fundamental à vida negamos também aos nossos mortos o direito à memória. Mais do que tratados violamos a sacralidade da vida de outrem em nome de uma política de boa vizinhança, irresponsável, antiética e imoral: fingir que nada existiu.

Como diz a canção de Renato Russo: “Nos querem todos iguais. Assim é bem mais fácil nos controlar e mentir, mentir, mentir e matar, matar, matar, o que eu tenho de melhor. É hora de quem ainda não está cego gritar. Nossos direitos estão sendo violados. Nossa humanidade é violada em seu direito à vida e à memória quando nossos desaparecidos políticos continuam desaparecidos e fica tudo por isso mesmo. As instituições que gozam de prestígio e mobilização nacional deveriam propor um projeto de lei de iniciativa popular para a criação de tal comissão.

Que o sangue de nossos mortos e desaparecidos políticos gritem aos céus por justiça e que Deus escute o clamor de seu povo.

Para contextualizar acessem: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/01/temos-que-pensar-para-frente-diz-novo-ministro-do-gsi.html