
Procuro re-visitar a história a partir de meu olhar de filósofo e de teólogo. Aconteceu hoje, o3 de janeiro de 2011 a transmissão de cargos de diversos ministérios do novo governo, da primeira mulher. Conquista simbólico-social à parte, fato inegável, diga-se de passagem, comporta também diversos vícios da política contemporânea, quando partidos não tem mais ideologia que os sustente, buscam por cargos que lhes garanta projeção nacional e recursos para as próximas campanhas. Sob um mesmo teto convive direita, centro, esquerda, centroesquerdadireita...
Na transmissão de cargo, o novo ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General José Elito Carvalho Siqueira defende a não apuração das violações de Direitos Humanos cometidas pelo Estado Brasileiro durante o regime militar. Sob o argumento (falacioso) de que é preciso olhar para frente, que a ditadura é um fato histórico passado e que o Brasil é um país grandioso que deve olhar para frente e não para trás, se posiciona contrariamente à criação de um grupo para apurar se houve ou não violação.
Já a nova ministra da Secretaria Especial para os Direitos Humanos, Maria do Rosário, muito timidamente defende que é hora de prestar contas, se assim o Estado o determinar.
Claro que, como humanista, penso que o Estado deve sim prestar conta à sociedade que o constitui dos atos praticados durante o regime militar. Retomo aqui o argumento de Irineu de Lião, em sua obra Adversus Haeresis, de que somente é redimido o que é assumido. A humanidade somente foi redimida porque Deus se fez homem. Analogamente podemos afirmar que somente seremos bem resolvidos com nossa história se o Estado que nossa sociedade constitui pelo sufrágio universal, assumir seus atos e, de alguma forma reparar à sociedade e aos indivíduos concretos que tiveram seus direitos violados.
Com a sustentação da posição atual, que finge não ter existido violações de Direitos Humanos fundamentais, tanto por parte do Estado quanto por parte das oposições, ferimos os tratados internacionais dos quais somos signatários, pois além de negar o direito fundamental à vida negamos também aos nossos mortos o direito à memória. Mais do que tratados violamos a sacralidade da vida de outrem em nome de uma política de boa vizinhança, irresponsável, antiética e imoral: fingir que nada existiu.
Como diz a canção de Renato Russo: “Nos querem todos iguais. Assim é bem mais fácil nos controlar e mentir, mentir, mentir e matar, matar, matar, o que eu tenho de melhor. É hora de quem ainda não está cego gritar. Nossos direitos estão sendo violados. Nossa humanidade é violada em seu direito à vida e à memória quando nossos desaparecidos políticos continuam desaparecidos e fica tudo por isso mesmo. As instituições que gozam de prestígio e mobilização nacional deveriam propor um projeto de lei de iniciativa popular para a criação de tal comissão.
Que o sangue de nossos mortos e desaparecidos políticos gritem aos céus por justiça e que Deus escute o clamor de seu povo.
Para contextualizar acessem: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/01/temos-que-pensar-para-frente-diz-novo-ministro-do-gsi.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário